Tanto a intercessão como a batalha espiritual possuem uma mesma origem: o coração do Pai. É por conhecer os mais profundos sonhos de Deus que nos lançamos a buscar intensamente o mover do Senhor, a fim de que seja operado na Terra o que o Céu já está totalmente disposto a manifestar. Neste mesmo processo, ao percebermos a resistência dos inimigos do Reino, entramos em guerra pra romper com todo o impedimento. É por estarmos vendo o coração do Soberano que nos envolvemos nessas dimensões. Agora, qual a melhor maneira de ter acesso a tudo isso?
Sabemos que após Jesus ter vencido o pecado, temos um novo e vivo caminho que nos leva ao santuário. É o sangue Dele, consagrado pelo véu que se rasgou; a sua própria carne. Somos convidados a entrar ousadamente, a fim de termos a experiência que apenas o sumo sacerdote poderia acessar, e isso uma vez por ano somente (cf. Hb 10:19,20; 9:7). Não sabemos o que o privilegiado ministro da antiga aliança contemplava diante da arca, mas acreditamos que nossa experiência deve ser ainda mais esplêndida, uma vez que a glória na última casa é maior que a primeira (cf. Ag 2:9). O que o sumo sacerdote entendia era que seu trabalho ali era oferecer o sangue de touros e de bodes. Certamente sua compreensão do que fazer ali não estava errada, pois foi essa a instrução que recebeu (cf. Hb 9:7). No entanto, a revelação de Deus é progressiva, trazendo mais luz e maior entendimento na medida em que avança com sua história. Na verdade o que o Senhor queria era que o pecador compreendesse sua santidade e temesse ao Deus de Israel de tal maneira, que concluísse que a morte seria seu destino mais justo. Por causa disso oferecia um sacrifício no qual sua própria vida era representada. Toda aquela estrutura deveria expressar um verdadeiro arrependimento e desejo de voltar para Deus. Era essa condição que atraía a presença do Eterno e a abertura de seu coração.
Adoração engessada produz morte
Infelizmente, com o passar do tempo, ao invés de progredir na compreensão, Israel foi transformando tudo aquilo em religião, ritual vazio e ofensa ao Deus Vivo. Os textos abaixo confirmam isso:
“De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes” (Is 1:11)
“Para que, pois, me vem o incenso de Sabá e a melhor cana aromática de terras remotas? Vossos holocaustos não me agradam, nem me são suaves os vossos sacrifícios” (Jr 6:20).
“Ouve, povo meu, e eu falarei; ó Israel, e eu protestarei contra ti: Sou Deus, sou o teu Deus. Não te repreenderei pelos teus sacrifícios, ou holocaustos, que estão continuamente perante mim. Da tua casa não tirarei bezerro, nem bodes dos teus currais. Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas. Conheço todas as aves dos montes; e minhas são todas as feras do campo. Se eu tivesse fome, não to diria, pois meu é o mundo e toda a sua plenitude. Comerei eu carne de touros? ou beberei sangue de bodes?” (Sl 50:7-13)
Adoração verdadeira, sincera e humilde revela o coração do Pai
Mas o Senhor sempre tem quem consiga discernir o que Ele deseja. Normalmente não são muitos, mas Ele sabe que existem. É por isso que Jesus disse que o Pai procura os verdadeiros adoradores (cf Jo 4:23). Ao longo da história, a grande maioria quer se relacionar com Deus de maneira mecânica, dispostos a oferecer uma boiada, sem render o mínimo do coração. Mas existem aqueles poucos que pensam como Davi:
“Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor. Pois não desejas sacrifícios, senão eu os daria; tu não te deleitas em holocaustos. Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; a um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus” (Sl 51:15-17).
“Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e as minhas mãos levantadas sejam como o sacrifício da tarde” (Sl 141:2).
Agora que o verdadeiro e último sacrifício já foi oferecido, somos tomados por um temor e tremor muito mais reverentes. Olhamos para o calvário e compreendemos a sordidez de nosso pecado e a maneira brutal com que ferimos o coração do nosso Deus. Ao meditarmos na prisão, nos empurrões, nos escarros, na injustiça, nos murros, nos tapas, nos xingamentos, na pressão, nos açoites, nos espinhos, na humilhação, nos cravos, na cruz, nos impropérios, na separação do Pai, na sede, na dor, na solidão, no peso, na afronta dos demônios e na morte de Jesus; reconhecemos que essa velha criatura precisa morrer com Ele e não podemos mais viver a mesma vida longe do Pai que deu seu Filho por alguém tão vil quanto eu e você.
Era isso que se deveria compreender na entrega dos sacrifícios, mas não foi o que aconteceu. Mesmo assim, Deus não desistiu e mandou seu Filho. Será que agora conseguimos compreender? Este é o caminho de volta ao seu coração. Não sabemos o que o sumo sacerdote podia ver no santuário, mas sei o que podemos ver quando nos colocamos em Cristo, num verdadeiro arrependimento e desejo de voltar pra Deus. Contemplamos o próprio Deus, disposto a receber seus filhos que agora estão em Cristo. A estes o Senhor revela seu propósito e libera seu poder para cumpri-lo.